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Afinal, alimentos ultraprocessados engordam?

Afinal, alimentos ultraprocessados engordam?

A ciência não tem mais dúvida de que a resposta é sim. E não só porque são calóricos.

Corredor de mercado

Bolachas, salgadinhos de pacote, nuggets, refeições e bolos prontos, sucos de caixinha, pão industrializado, macarrão instantâneo e muito mais — uma coisa que todos eles têm em comum é que são repletos de ingredientes como gorduras, açúcar e sódio, ao mesmo tempo em que têm poucas quantidades de vitaminas, sais minerais e fibras.

Então, quando o conceito de ultraprocessados foi apresentado em 2014 no Guia Alimentar para a População Brasileira, esse parecia ser o grande problema.¹ E o mundo inteiro começou a ficar ligado que a humanidade estava comendo cada vez pior.

Nos países com alto consumo desses alimentos e bebidas encontrados em qualquer esquina, relativamente baratos e feitos para serem consumidos na hora, notou-se que as pessoas ingeriam muito açúcar, mas quase nada de potássio, zinco ou magnésio. Elas exageravam nas gorduras, mas tinham carências de vitaminas importantes. Tudo é uma questão de equilíbrio, de não comê-los a toda hora. Porque, cá entre nós, é sempre assim: quando os ultraprocessados dominam as refeições, o desequilíbrio nutricional é garantido.² E é fácil deduzir que, quando alguém não se alimenta direito no dia a dia, o risco de doenças sobe. Nem o coração é poupado.

Mas seria só isso? Que nada! Depois se viu que, se você comparasse duas pessoas que consumiam a mesma quantidade de açúcar, sódio e gorduras, levava a pior aquelas que obtinham esses nutrientes de ultraprocessados em relação às que também excediam nas porções, mas saboreando refeições caseiras. Com os ultraprocessados, o risco de desenvolver obesidade, diabetes e doenças do coração era maior.³

Há várias hipóteses para explicar por que isso acontece. A gente não pode esquecer, por exemplo, que os ultraprocessados têm um monte de substâncias estranhas, os tais aditivos que estão ali para lhes dar sabor, cor, textura… Há quem aposte que eles interfiram na microbiota do intestino e causem inflamações que atrapalham a saúde.⁴

Fazem a gente comer mais!

Um estudo bastante curioso foi decisivo para provar que os ultraprocessados podiam levar alguém a comer além da conta e ganhar peso.⁵ Escute essa história: os cientistas convidaram 20 pessoas para viver durante um mês em seu laboratório nos Estados Unidos.

Elas foram divididas em dois grupos e ouviram a seguinte instrução: “comam o quanto quiserem, até sentirem saciedade”. Acontece que, para uma das turmas, 80% das calorias das refeições vinham de ultraprocessados. Para a outra, ao contrário, não era servido nenhum ultraprocessado à mesa.

Houve uma série de cuidados para que a comparação fosse justa. O número de calorias e a quantidade de cada nutriente eram os mesmos nas refeições dos dois grupos. E as receitas caseiras não podiam ser sem graça para, depois, isso ser usado como desculpa na linha “comeu menos porque não era gostoso”.

Durante 14 dias foi assim. E o que se viu? O grupo da dieta cheia de ultraprocessados comia mais. Os cientistas sabiam disso porque, quando retiravam os pratos, pesavam as sobras para calcular quantos gramas de alimento tinham sido consumidos.

As porções maiores e as mordiscadas extras fizeram com que cada pessoa na turma dos ultraprocessados ingerisse, em média, 500 calorias a mais por dia! E, claro, todos os seus integrantes ganharam peso nessas duas semanas. Já o outro grupo perdeu gordura.

Os cientistas, então, acharam bom fazer uma troca: quem estava com a dieta à base de ultraprocessados passou a receber comida caseira e vice-versa durante outros 14 dias. De novo, quem ficou no grupo dos ultraprocessados comeu umas 500 calorias a mais diariamente e viu a “medida do abraço” crescer.

Três razões para isso acontecer

1. Diferença na textura

Até o mais crocante dos ultraprocessados, como um salgadinho, é formulado para esfarelar ou derreter depressa na boca. O resultado é que geralmente exige menos esforço de mastigação. Daí as pessoas comem mais depressa e ingerem mais calorias por minuto.⁵,⁶

2. Maior densidade energética

Durante a sua produção, o ultraprocessado perde líquido. A consequência disso é que nutrientes como proteínas, carboidratos e gorduras ficam mais concentrados. Por isso, cada grama do alimento acaba oferecendo mais calorias.⁵,⁶

3. Hiperpalatável

Um ultraprocessado é formulado para estimular o paladar intensamente. É como se suas moléculas se encaixassem com perfeição nos receptores da língua responsáveis por captar sabores. A boca saliva mais. O aroma tende a ser mais forte e tentador. Os aditivos químicos de nomes esquisitos provocam tudo isso, entrando na receita da indústria para você pedir bis a cada mordida.⁷

Com essa trinca de estratégias, os ultraprocessados aumentam o risco de o seu coração enfrentar problemas.8 Até porque, quando alguém consome muito esse tipo de alimento ou bebida, a tendência é a “medida do abraço” aumentar.⁹

1. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população Brasileira [Internet]. 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf Acessado em 20 /11/2024.
2. Martini D, Godos J, Bonaccio M, Vitaglione P, Grosso G. Ultra-Processed Foods and Nutritional Dietary Profile: A Meta-Analysis of Nationally Representative Samples. Nutrients. 2021 Sep 27;13(10):3390. doi: 10.3390/nu13103390.
3.
Dicken SJ, Batterham RL. The Role of Diet Quality in Mediating the Association between Ultra-Processed Food Intake, Obesity and Health-Related Outcomes: A Review of Prospective Cohort Studies. Nutrients. 2021.
4. Whelan K, Bancil AS, Lindsay JO, Chassaing B. Ultra-processed foods and food additives in gut health and disease. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2024 Jun;21(6):406-427. doi: 10.1038/s41575-024-00893-5. Epub 2024 Feb 22. PMID: 38388570.
5. Hall KD, Ayuketah A, Brychta R, Cai H, Cassimatis T, Chen KY, Chung ST, Costa E, Courville A, Darcey V, Fletcher LA, Forde CG, Gharib AM, Guo J, Howard R, Joseph PV, McGehee S, Ouwerkerk R, Raisinger K, Rozga I, Stagliano M, Walter M, Walter PJ, Yang S, Zhou M. Ultra-Processed Diets Cause Excess Calorie Intake and Weight Gain: An Inpatient Randomized Controlled Trial of Ad Libitum Food Intake. Cell Metab. 2019 Jul 2;30(1):67-77.e3.
6. Fazzino TL, Rohde K, Sullivan DK. Hyper-Palatable Foods: Development of a Quantitative Definition and Application to the US Food System Database. Obesity (Silver Spring). 2019 Nov;27(11):1761-1768.
7. Fazzino TL, Courville AB, Guo J, Hall KD. Ad libitum meal energy intake is positively influenced by energy density, eating rate and hyper-palatable food across four dietary patterns. Nat Food. 2023 Feb;4(2):144-147.
8. Bonaccio M, Di Castelnuovo A, Ruggiero E, Costanzo S, Grosso G, De Curtis A, Cerletti C, Donati MB, de Gaetano G, Iacoviello L; Moli-sani Study Investigators. Joint association of food nutritional profile by Nutri-Score front-of-pack label and ultra-processed food intake with mortality: Moli-sani prospective cohort study. BMJ. 2022 Aug 31;378:e070688.
9. Liu J, Steele EM, Li Y, Yi SS, Monteiro CA, Mozaffarian D. Consumption of Ultraprocessed Foods and Body Fat Distribution Among U.S. Adults. Am J Prev Med. 2023 Sep;65(3):427-438.